quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Estes dias chuvosos, apesar de cinzentos, sabem-me bem!


Convidam-me a folhear um livro de poesia e, bem acomodada, percorrer as páginas, saltar de poema em poema e sem compromissos deixar-me levar pelas palavras...
A preguiça de pensar
É uma grande alegria,
Porque pensar é achar
Que a lareira já está fria.
Não quero pensar em nada.
Quero aquecer-me a sentir
Que na lareira apagada
Arde uma lareira de ouvir.
Que lareiras e alegrias
São coisas só de sonhar…
Aquecem por fantasias,
Mas, se pensar, são frias —
São frias por se pensar.
Fernando Pessoa
25 - 8 - 1934
In Poesia 1931-1935 e não datada , Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas, Madalena Dine, 2006

 
A rabanada de vento
Deitou ao chão o andaime
Do meu desalento
E eu grito: Salvai-me!
Mas se a rabanada de vento
Deitar ao chão
O andaime do meu desalento,
Não há salvação.
Fernando Pessoa
28 - 4 - 1928

In Poesia 1918-1930 , Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas, Madalena Dine, 2005



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